O principal jogador do mercado de criptomoedas da América Latina, Brasil, o “bom aluno” subestimado

Autor: Zen, PANews

“Estamos atrasados.” Recentemente, o fundador da BlackRock, Larry Fink, afirmou na cúpula do Wall Street Journal que o desenvolvimento de tokens nos EUA precisa acompanhar o ritmo global para evitar ficar para trás, sendo o Brasil o líder nesse cenário.

Essa resposta foi bastante surpreendente. Como uma das maiores economias globais com uma localização geográfica única, o Brasil também tenta estender seu sonho de potência ao mundo das criptomoedas.

Em dezembro, o mercado de capitais de Brasília, capital do Brasil, não carece de novas histórias sobre “ativos digitais”.

Em 4 de dezembro, a empresa listada na Nasdaq, DeFi Technologies, anunciou que sua subsidiária Valour recebeu autorização para listar quatro produtos de investimentos em ativos digitais na bolsa principal B3, abrangendo Bitcoin, Ethereum, XRP e Sui, com preços em real brasileiro, negociados com corretoras locais e dentro do sistema de custódia. O CEO da DeFi Technologies, Johan Wattenström, afirmou que o Brasil “já se tornou um dos mercados de ativos digitais mais importantes e de crescimento mais rápido do mundo”.

Em 8 de dezembro, a conhecida venture capital de criptomoedas, Paradigm, anunciou um investimento de 13,5 milhões de dólares na startup brasileira de stablecoins, Crown, marcando sua primeira aposta em uma startup brasileira.

A Crown lançou o BRLV, uma stablecoin atrelada 1:1 ao real brasileiro e lastreada por títulos do governo brasileiro, avaliada em cerca de 90 milhões de dólares após esta rodada de financiamento, com uma captação total superior a 360 milhões de reais, sendo considerada por alguns meios de comunicação uma das stablecoins não-dolar mais robustas do mercado emergente.

Esses eventos não são isolados. Na narrativa de fornecedores de capital internacional e infraestrutura, o Brasil deixou de ser apenas um “mercado emergente de alta taxa de juros” para ser visto como o principal campo de testes de ativos digitais na América Latina, um “estudante exemplar” subestimado.

Principais atores de criptomoedas na América Latina

Hoje, o Brasil é o maior mercado de criptomoedas da América Latina e um dos de crescimento mais acelerado no mundo. Segundo o Relatório Geográfico de Criptomoedas de 2025 da Chainalysis, em 2024, o valor de criptomoedas ingressando no Brasil foi de aproximadamente 318,8 bilhões de dólares, com uma taxa de crescimento mensal de 109,9%, representando quase um terço de toda a América Latina, e ocupando a quinta posição no índice global de adoção de criptomoedas em 2025.

Na conferência de blockchain do Brasil, realizada no final de novembro, o auditor da Receita Federal, Flavio Correa Prado, revelou que, de acordo com as regras atuais, o volume de transações de criptomoedas reportadas já alcança entre 6 e 8 bilhões de dólares por mês. Ele afirmou que, se essa tendência continuar, até 2030 esse número poderá subir para 9 bilhões de dólares por mês, sendo a maior parte das transações envolvendo stablecoins como USDT e USDC.

Do ponto de vista da estrutura de ativos, a característica única do mercado brasileiro é a dominância absoluta das stablecoins. Uma análise da Fireblocks, de abril deste ano, indicou que as stablecoins representam 59,8% das atividades relacionadas a criptomoedas no Brasil, muito acima da média global de 44,7%. Segundo dados oficiais, o presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, afirmou em um discurso público neste ano que cerca de 90% dos ativos digitais no país estão relacionados a operações com stablecoins, incluindo pagamentos transfronteiriços e liquidações em exchanges.

A estrutura altamente dominada por stablecoins indica que o Brasil é um mercado de criptomoedas com alto grau de “financeirização e conformidade”, e não apenas um para especulação. No entanto, em relação à alocação de ativos criptográficos, o Brasil foi um dos primeiros a adotar sistematicamente esses ativos, incorporando produtos de criptografia ao mercado de capitais existente.

A B3 (Brasil, Bolsa, Balcão), é a única bolsa de valores do país, atuando como principal mercado de ações, títulos, futuros e ETFs. Desde 2021-2022, gestores como Hashdex e QR Asset lançaram na B3 ETFs de índices de Bitcoin, Ethereum e outros criptomercados. Além disso, em setembro do ano passado, a regulamentação brasileira aprovou o primeiro ETF de Bitcoin spot do mundo baseado em Solana, listado na B3, considerado uma ousada tentativa de liberar ETFs de Bitcoin à vista antes dos EUA.

Até meados de 2025, mais de 20 ETFs com exposição total ou parcial a criptomoedas estão disponíveis na B3, cobrindo Bitcoin, Ethereum, DeFi e produtos híbridos de Bitcoin + ouro. O site oficial de educação da B3 descreve ETFs de criptomoedas como “ferramentas práticas para obter exposição a ativos digitais dentro de um ambiente regulado”, enfatizando que a custódia é de responsabilidade de entidades reguladas, denominados em reais e integrados ao sistema tributário nacional. Além disso, a B3 lançou contratos futuros de Bitcoin e planeja expandir para Ethereum e Solana, oferecendo ferramentas de hedge e arbitragem para investidores institucionais e de alta renda.

Na camada de entrada do varejo, o Brasil também possui uma cadeia bastante completa de participantes. A exchange local Mercado Bitcoin, que combina negociação, custódia e emissão de ativos tokenizados; o banco digital Nubank, que incorporou um módulo de investimentos em criptomoedas no app de banco móvel, com aproximadamente 6,6 milhões de usuários criptográficos no Brasil, sendo um dos maiores bancos de criptomoedas do mundo; e a gigante PicPay, com mais de 60 milhões de usuários, possui uma unidade dedicada a Crypto & Web3, atuando em negociações, stablecoins e contas globais.

Vale destacar que, conforme dados divulgados pela Circle e Nubank, em 2024, o saldo de USDC dos clientes do Nubank cresceu 10 vezes, com cerca de 30% dos clientes de criptomoedas tendo USDC em seus portfólios, e mais da metade dos novos usuários usando USDC como sua primeira criptomoeda. Em 2025, o Nubank introduziu um programa de recompensas com rendimento anual de 4% para usuários que possuem USDC, integrando oficialmente a stablecoin ao seu sistema de gestão financeira.

Sistema “paralelo de dólares” sob inflação e desvalorização

Comparado à Argentina, o Brasil, embora não seja um país de hiperinflação em colapso total, enfrenta um ambiente macroeconômico que não é amigável à confiança dos residentes.

Dados do Banco Mundial e do FMI mostram que, desde 2021, a inflação no Brasil frequentemente superou o limite superior das metas do banco central, voltando a subir no final de 2024 e em meados de 2025. Em agosto de 2025, o índice de preços ao consumidor (CPI) mostrou um aumento de aproximadamente 5,1% em relação ao ano anterior, acima do limite superior de 4,5% da meta. Nos últimos dez anos, o real brasileiro se desvalorizou várias vezes em relação ao dólar: de cerca de 2 BRL/USD em 2013, caiu para mais de 5 BRL/USD em 2020-2021, mesmo com alguma recuperação recente, ainda está bem abaixo dos níveis do início da década de 2010.

Para famílias de classe média e empresas, essa desvalorização gradual, como uma “cozedura em água morna”, leva os residentes a uma prática de “dolarização” de suas poupanças. Muitas famílias usam depósitos em dólares, contas offshore ou stablecoins para realizar uma “fuga suave” de parte de seus ativos. As empresas enfrentam maior necessidade de hedge: importadores, exportadores e companhias dependentes de commodities precisam buscar unidades de valor mais estáveis fora do balanço de seus ativos em moeda local. Além disso, com taxas de juros de dois dígitos há anos, embora a taxa nominal seja alta, seu poder de compra real não é estável, o que cria um terreno fértil para inovações financeiras como “lucro de spread”.

Na análise especializada da Chainalysis sobre a América Latina, foi destacado que as stablecoins desempenham três funções principais na região: hedge de risco cambial, remessas/transações internacionais e pagamentos de comércio eletrônico. Assim, a demanda do Brasil por stablecoins é impulsionada por uma decisão racional de substituir USDT/USDC por contas offshore em dólares, diante da volatilidade cambial e do controle de capitais.

A infraestrutura de pagamento digital também facilita o acesso dos residentes às stablecoins. O sistema de pagamento instantâneo Pix, liderado pelo Banco Central, é o principal canal para transferências e consumo diário. Em 2024, a Circle integrou o Pix, permitindo que os usuários brasileiros convertam livremente entre reais e USDC em poucos minutos, usando transferências bancárias locais. Empresas como TransFi combinam stablecoins com Pix para remessas internacionais, pagamentos em comércio eletrônico e pagamentos a freelancers, automatizando a troca de moeda.

Evolução do marco regulatório no Brasil e “subida de nível”

O rápido desenvolvimento do mercado de criptomoedas no Brasil, além do fator de desvalorização monetária, está estreitamente ligado à aceitação e regulação por parte das autoridades. Olhando para a trajetória regulatória dos últimos dez anos, ela não foi simplesmente do nada ao tudo, mas uma evolução de alertas e restrições gerais para uma legislação sistemática e controle cambial.

Em 2014, quando as criptomoedas começaram a emergir como uma força nova a ser considerada, o Banco Central do Brasil publicou um aviso de risco sobre as chamadas “moedas virtuais”, deixando claro que elas não eram consideradas moeda eletrônica sob a legislação brasileira. O banco também afirmou que, na época, o impacto das criptomoedas no sistema financeiro nacional era limitado, monitorando continuamente sua evolução.

Em 2017, durante a febre de ICOs, o Banco Central publicou novo aviso reforçando que as moedas virtuais não eram reguladas pelo sistema financeiro brasileiro, não tinham garantia soberana, apresentavam alta volatilidade e poderiam ser usadas para lavagem de dinheiro e atividades ilegais. Nesse mesmo ano, a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) publicou orientações sobre ICOs, alertando que alguns tokens poderiam ser considerados valores mobiliários sujeitos à sua supervisão, e que fundos de investimento não poderiam possuir criptomoedas diretamente, pois ainda não tinham a classificação legal de “ativos financeiros”.

Nessa fase, as autoridades não proibiram que indivíduos ou empresas possuíssem ou usassem esses ativos de alto risco, mas não reconheceram sua condição de ativos financeiros, nem permitiram que fundos regulados os alocassem diretamente.

Em 2019, o Brasil começou a incorporar as criptomoedas às regras fiscais e cambiais. A Receita Federal do Brasil publicou instruções normativas exigindo que provedores de serviços de ativos virtuais, incluindo exchanges, reportassem informações de transações de usuários às autoridades fiscais. Residentes que realizassem transações de criptomoedas acima de certos limites em plataformas estrangeiras ou no mercado de balcão também precisariam declarar, e ganhos dessas operações seriam tributados.

No final de 2022, o Brasil abandonou o regime de regras gerais e aprovou a Lei Federal nº 14.478, conhecida como “Lei de Criptomoedas”, que criou a categoria jurídica de “provedores de serviços de ativos virtuais (VASP)” e delegou à autoridade administrativa (Banco Central, CVM, etc.) a formulação de regras específicas. Em 2023, o governo regulamentou explicitamente a “prestação de serviços de ativos virtuais sob supervisão” como parte do sistema financeiro, preparando o caminho para regras detalhadas lideradas pelo Banco Central. A análise da Chainalysis em 2025 destacou que esse movimento estabeleceu uma base para que o Brasil seja pioneiro na América Latina na criação de um “marco regulatório completo de criptomoedas”.

Este ano, a legislação brasileira sobre criptomoedas foi ainda mais detalhada, com a publicação das Resoluções nº 519 a 521 pelo Banco Central. Segundo o novo regime cambial, stablecoins atreladas a moedas estrangeiras ou ao real, que representem uma forma digital de direitos de recebimento de moeda estrangeira ou nacional, serão vistas como uma forma de moeda estrangeira ou de direitos sobre ela; as instituições que oferecem serviços de câmbio, remessas internacionais e liquidação de pagamentos precisarão obter as licenças cambiais e de pagamento necessárias; e o governo também discute planos de tributação para pagamentos transfronteiriços com criptomoedas, visando evitar arbitragem regulatória com stablecoins.

Todo esse arcabouço não trata as stablecoins como “ferramentas ilegais de dollarização”, mas tenta integrá-las ao sistema de câmbio monitorável e tributável.

De modo geral, a história do mercado de criptomoedas no Brasil não é uma narrativa dramática de “regulamentação repentina e explosão do mercado”, mas uma consequência de anos de busca por ferramentas de hedge diante da inflação e das oscilações cambiais. Com infraestrutura financeira como o Pix madura, os ativos digitais se integraram naturalmente aos sistemas de pagamento e investimento existentes. Após anos de observação e restrições parciais, as autoridades optaram por incorporar o mercado ao sistema regulatório, por meio de tributação, leis de ativos virtuais e novas regras cambiais, tornando-o mais visível e controlável.

O caso do investimento do Paradigm na Crown mencionado no início deste artigo é apenas uma das últimas evidências desse processo. Nos próximos anos, com o avanço do Drex e a implementação de mais projetos de tokens de estabilidade e tokenização de ativos, o Brasil provavelmente continuará sendo um exemplo de “integração profunda entre criptomoedas e finanças tradicionais”, oferecendo referências constantes para regulações e práticas de mercado globais.

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