O Cryptonomist entrevistou Vikrant Sharma, CEO da Cake Wallet.
A sua experiência pessoal com a Coinbase claramente moldou a criação da Cake Wallet. Olhando para trás, qual foi a perceção mais marcante que o levou a transformar essa frustração em inovação?
Quando isso aconteceu em 2015, apanhou-me sinceramente desprevenido. Em 2015 tentei comprar antibióticos num mercado da dark web. Enviei Bitcoin a partir do endereço da minha exchange centralizada e a minha conta foi instantaneamente encerrada. Esse momento despertou-me mesmo e, de repente, percebi o quão transparente é tudo na blockchain e o quão pouco controlo realmente se tem quando outra pessoa detém as suas chaves e monitoriza a sua atividade.
Pensei que estava a usar Bitcoin de forma livre, mas na realidade bastou uma transação para um terceiro decidir o que eu estava “autorizado” a fazer com o meu próprio dinheiro.
Essa frustração foi-se transformando, lentamente, em motivação. Fez-me perceber a importância fundamental da privacidade e da auto-custódia, se a cripto quiser realmente cumprir a promessa de liberdade financeira. A Cake Wallet nasceu dessa ideia de que as pessoas devem poder usar cripto de forma privada, segura e sem pedir autorização a ninguém.
A privacidade e a auto-custódia são frequentemente vistas como temas complexos para o utilizador comum. Como abordaram a simplificação e intuição desses conceitos na filosofia de design da Cake Wallet?
A Cake nasceu, literalmente, da ideia de tornar a cripto “canja”. Desde o primeiro dia que o foco foi tornar a privacidade e a auto-custódia simples e intuitivas para todos.
A nossa abordagem sempre foi identificar o que os utilizadores acham mais difícil e perceber como remover esse atrito. As frases-semente são um bom exemplo. Gerir uma frase-semente para Bitcoin, outra para Ethereum, outra para Monero, é esmagador. Por isso, criámos uma forma de gerir tudo com uma única semente-mestre. O mesmo com os endereços. Ninguém quer decorar ou estar sempre a conferir longas cadeias de caracteres, por isso agora pode receber dinheiro usando algo tão simples como o seu nome de utilizador do Twitter.
As pessoas também nos disseram que queriam usar cripto facilmente na vida real. Por isso, integrámos cartões de débito e cartões-presente onde pode carregar cripto e usar onde quiser.
No final do dia, trata-se de ouvir os utilizadores, especialmente os que estão a começar no mundo cripto, e focamo-nos no que lhes causa mais dificuldades. Se conseguirmos fazer com que a privacidade e a auto-custódia pareçam naturais, então estamos a cumprir o nosso papel.
A Cake Wallet tem estado consistentemente à frente do seu tempo — desde a integração dos Bitcoin Silent Payments ao Payjoin v2. O que impulsiona a inovação da vossa equipa e como decidem quais as funcionalidades de privacidade a implementar primeiro?
Priorizar funcionalidades de privacidade é algo difícil de fazer corretamente, pois, em teoria, não há limite para o quão privado se pode tornar um sistema. O nosso objetivo final é tornar a cripto fácil para as pessoas, dando-lhes funcionalidades de privacidade de última geração que, por vezes, nem se apercebem de que estão a usar.
Quando olhamos para novas tecnologias, fazemos-nos sempre duas perguntas:
Isto vai melhorar de forma significativa a privacidade do utilizador no mundo real?
Conseguimos implementar de forma que seja natural para o utilizador?
Foi esse pensamento que nos levou a integrar coisas como Litecoin MWEB, Tor, Bitcoin Silent Payments e PayJoin V2. São tecnologias poderosas, mas que não eram usadas pelo utilizador comum, por isso decidimos tirar estas inovações dos repositórios do GitHub e colocá-las nas mãos de pessoas normais que só querem transações seguras e privadas, sem precisarem de um curso em tecnologia.
A ideia de transformar qualquer telemóvel antigo numa cold wallet air-gapped é revolucionária. O que inspirou esta funcionalidade e como acha que isso pode mudar a perceção das pessoas sobre segurança pessoal em cripto?
O Cupcake surgiu da ideia de que a segurança avançada não deve ser algo apenas ao alcance de especialistas em tecnologia. Muitas pessoas já têm um telemóvel ou tablet antigo guardado numa gaveta, então porque não transformá-lo numa hardware wallet gratuitamente? Essa foi a inspiração. Com o Cupcake, qualquer pessoa pode transformar um dispositivo extra numa cold wallet air-gapped em cerca de cinco minutos.
O que mais gosto no Cupcake é que oferece exatamente o mesmo modelo de segurança nuclear das hardware wallets tradicionais — as suas chaves nunca tocam na internet — mas sem custos nem complexidade. Sem envios, sem esperas, sem dados pessoais, sem moradas na embalagem, sem rasto em papel. Parece apenas um telemóvel velho, mas está, de facto, a manter as suas chaves offline para sempre. E como emparelha com a Cake Wallet em modo apenas de visualização, a sua carteira do dia a dia continua fácil de usar, enquanto os seus fundos de longo prazo permanecem completamente offline.
Acho que isto muda a forma como as pessoas pensam sobre segurança cripto porque elimina o fator intimidação, deixa de ser um produto de luxo. Não precisa gastar dinheiro, esperar entregas ou confiar numa caixa fechada. Pode proteger as suas poupanças com algo que já tem em casa e pode verificar cada linha de código porque é totalmente open source.
Unificaram múltiplas moedas numa única frase-semente e até permitiram aos utilizadores enviar para qualquer endereço usando diferentes criptos. Quão desafiante foi construir este nível de interoperabilidade e o que significa para o futuro das carteiras multi-moeda?
A interoperabilidade parece fácil, mas na realidade cada blockchain “fala” uma linguagem completamente diferente, por isso unificar várias moedas numa única frase-semente e permitir envios entre diferentes criptos foi um desafio, mas foi precisamente por isso que o fizemos. A maioria das pessoas não quer pensar em termos de blockchains, só querem usar as suas criptos.
Ter uma única frase-semente para Bitcoin, Ethereum, Monero e outras, faz com que a auto-custódia seja tão natural como ter um login para uma app bancária. E poder enviar para qualquer endereço, independentemente da cripto que o destinatário tem, elimina atritos nas transações do dia a dia.
Para nós, trata-se sempre de esconder a complexidade técnica dos nossos utilizadores. Se a interoperabilidade for bem feita, o utilizador nem sequer se apercebe que está a acontecer. Apenas abre a carteira, escolhe o ativo que quer e transaciona.
Acho que este é o futuro das carteiras multi-moeda — não “mais funcionalidades”, mas menos desafios para o utilizador. Quanto mais fácil for para as pessoas gerirem diferentes ativos, mais rápida será a adoção em massa. E a privacidade e a auto-custódia tornam-se muito mais realistas quando tudo parece simples em vez de técnico.
Enviar cripto apenas usando um nome de utilizador do Twitter remove uma grande barreira para o utilizador comum. Como equilibram esta conveniência com preocupações de privacidade e segurança?
É verdade que, no mundo cripto, existe a crença comum de que privacidade e segurança vêm sempre à custa da conveniência, mas não achamos que tenha de ser um compromisso permanente. Um dos nossos objetivos na Cake Wallet é provar que é possível ter as três ao mesmo tempo.
A nossa funcionalidade de X é um ótimo exemplo: não alojamos nada na Cake Wallet, não há alojamento nem armazenamento de dados dos utilizadores. As pessoas publicam voluntariamente os seus endereços públicos nas bios do X e nós usamos apenas a API do X para obter o que escolheram tornar público.
Isto significa que existe um endereço verificável para cada utilizador (segurança), facilita aos nossos utilizadores pagar a qualquer pessoa com um nome de utilizador, e muitos dos nossos utilizadores colocam os seus endereços de Monero, BTC Silent Payment ou LTC MWEB, o que no geral torna a cripto mais privada, segura e conveniente.
Esta é a tríade que tentamos alcançar em toda a experiência da aplicação, e pode encontrá-la em funcionalidades como o PayJoin v2, que oferece melhor privacidade sem perda de segurança e pode até resultar em taxas mais baixas, e o AnyPay permite pagar a qualquer pessoa mesmo usando criptos diferentes, o que melhora imenso a privacidade e facilidade de uso.
A integração xStocks da Cake Wallet permite comprar ações tokenizadas como Google ou Nvidia diretamente com cripto. Vê os ativos tokenizados como a próxima fronteira para a adoção das criptomoedas?
Um grande fator nas ações é a acessibilidade. Em alguns países, investir em ações é complicado e muita gente que já detém cripto não quer passar por um banco ou corretora só para ter exposição a ações. Queríamos dar essa acessibilidade aos nossos utilizadores para que pudessem ser, essencialmente, a sua própria corretora. Agora, tudo o que precisam é de cripto na Cake Wallet. Sem conta bancária, sem aprovação de corretora. É uma mudança enorme sobre quem pode participar no sistema financeiro.
Acho que os ativos tokenizados são a próxima fronteira? Acho que são certamente uma delas, mas não a única. É verdade que nem toda a gente quer negociar cripto apenas pelo prazer de negociar cripto. Muitas pessoas querem apenas acesso a mercados globais de forma simples e sem fronteiras. A tokenização torna isso possível porque traz ativos tradicionais para o mesmo ecossistema onde a cripto já opera.
Por isso, para nós, o xStocks está a tornar-se uma porta de entrada para mais liberdade financeira, mais escolha e mais acesso. E quanto mais as pessoas puderem realmente fazer com as suas criptos — enviá-las, poupá-las, investi-las, gastá-las — mais perto estaremos da verdadeira adoção em massa.
Na Suíça, os utilizadores podem pagar com Monero nos supermercados SPAR — um caso notável de utilização no mundo real. Que lições retiraram desta implementação e poderemos ver integrações semelhantes noutros locais?
Uma das maiores lições é que os comerciantes se importam menos com a palavra “cripto” e mais com os benefícios práticos: baixas taxas, liquidação instantânea, ausência de estornos fraudulentos e nenhum dado sensível de clientes para armazenar. E para os clientes, é a privacidade e a conveniência de pagar sem ligar a sua identidade aos hábitos de consumo. É uma vitória para ambos os lados.
Poderemos ver isto noutros locais? Sem dúvida. Cada região é diferente em termos de regulação e cultura dos comerciantes, mas o interesse existe. O sucesso na Suíça deixou claro que a adoção no mundo real não exige que os comerciantes se tornem “especialistas em cripto”. Só exige que os pagamentos sejam tão simples e fiáveis como os sistemas que já utilizam.
O nosso papel na Cake Wallet é continuar a lutar por esse tipo de praticidade.
Com a crescente pressão regulatória sobre moedas de privacidade como Monero, como vê a evolução do equilíbrio entre direitos de privacidade e conformidade?
Há, sem dúvida, muita atenção sobre as moedas de privacidade neste momento, e compreendemos porquê. Os reguladores querem sistemas financeiros seguros e os utilizadores querem controlo sobre a sua informação pessoal — estes dois objetivos não têm de se anular mutuamente. Na Cake Wallet focamo-nos em ferramentas de auto-custódia que não recolhem dados pessoais. Não guardamos fundos, não monitorizamos utilizadores. O nosso papel é apenas dar às pessoas tecnologia segura para gerirem o seu próprio dinheiro.
Olhando em frente, acreditamos que a indústria continuará a avançar para soluções que respeitem ambos os lados: uso responsável da cripto, protegendo ao mesmo tempo as pessoas comuns da exposição desnecessária dos seus dados.
Finalmente, o que se segue para a Cake Wallet? Existem funcionalidades ou objetivos futuros que o entusiasmem particularmente — talvez algo que possa redefinir a nossa perceção de liberdade financeira?
O que se segue para a Cake Wallet passa por expandir a liberdade financeira mantendo sempre a privacidade e a auto-custódia no centro. A funcionalidade que mais me entusiasma neste momento é a integração do Bitcoin Lightning. O Lightning abre portas para tudo, desde micro pagamentos a grandes transferências com liquidação quase instantânea. Mas vamos fazê-lo à maneira Cake: privacidade primeiro e totalmente auto-custodial. Algumas implementações Lightning hoje introduzem concessões em relação à privacidade ou dependem de serviços alojados. Estamos a construir para que os utilizadores mantenham o controlo e a sua privacidade transacional permaneça protegida de ponta a ponta.
Temos também muito trabalho em curso no lado das hardware wallets, a suportar mais dispositivos e a dar às pessoas múltiplas formas de proteger os fundos, seja uma hardware wallet comercial ou um telemóvel extra transformado numa cold wallet air-gapped com o Cupcake.
Outra área onde estamos a investir fortemente é na gestão intuitiva de moedas. Funcionalidades avançadas de privacidade como coin control tradicionalmente foram difíceis ou intimidantes para os recém-chegados. Estamos a tornar o tagging fácil, ações em lote, organização mais inteligente das moedas e controlos de gastos desenhados para que os utilizadores tenham forte privacidade sem precisar de pensar como um programador ou auditor.
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Cake Wallet, Vikrant Sharma: “estamos a investir fortemente na privacidade”
O Cryptonomist entrevistou Vikrant Sharma, CEO da Cake Wallet.
A sua experiência pessoal com a Coinbase claramente moldou a criação da Cake Wallet. Olhando para trás, qual foi a perceção mais marcante que o levou a transformar essa frustração em inovação?
Quando isso aconteceu em 2015, apanhou-me sinceramente desprevenido. Em 2015 tentei comprar antibióticos num mercado da dark web. Enviei Bitcoin a partir do endereço da minha exchange centralizada e a minha conta foi instantaneamente encerrada. Esse momento despertou-me mesmo e, de repente, percebi o quão transparente é tudo na blockchain e o quão pouco controlo realmente se tem quando outra pessoa detém as suas chaves e monitoriza a sua atividade.
Pensei que estava a usar Bitcoin de forma livre, mas na realidade bastou uma transação para um terceiro decidir o que eu estava “autorizado” a fazer com o meu próprio dinheiro.
Essa frustração foi-se transformando, lentamente, em motivação. Fez-me perceber a importância fundamental da privacidade e da auto-custódia, se a cripto quiser realmente cumprir a promessa de liberdade financeira. A Cake Wallet nasceu dessa ideia de que as pessoas devem poder usar cripto de forma privada, segura e sem pedir autorização a ninguém.
A privacidade e a auto-custódia são frequentemente vistas como temas complexos para o utilizador comum. Como abordaram a simplificação e intuição desses conceitos na filosofia de design da Cake Wallet?
A Cake nasceu, literalmente, da ideia de tornar a cripto “canja”. Desde o primeiro dia que o foco foi tornar a privacidade e a auto-custódia simples e intuitivas para todos.
A nossa abordagem sempre foi identificar o que os utilizadores acham mais difícil e perceber como remover esse atrito. As frases-semente são um bom exemplo. Gerir uma frase-semente para Bitcoin, outra para Ethereum, outra para Monero, é esmagador. Por isso, criámos uma forma de gerir tudo com uma única semente-mestre. O mesmo com os endereços. Ninguém quer decorar ou estar sempre a conferir longas cadeias de caracteres, por isso agora pode receber dinheiro usando algo tão simples como o seu nome de utilizador do Twitter.
As pessoas também nos disseram que queriam usar cripto facilmente na vida real. Por isso, integrámos cartões de débito e cartões-presente onde pode carregar cripto e usar onde quiser.
No final do dia, trata-se de ouvir os utilizadores, especialmente os que estão a começar no mundo cripto, e focamo-nos no que lhes causa mais dificuldades. Se conseguirmos fazer com que a privacidade e a auto-custódia pareçam naturais, então estamos a cumprir o nosso papel.
A Cake Wallet tem estado consistentemente à frente do seu tempo — desde a integração dos Bitcoin Silent Payments ao Payjoin v2. O que impulsiona a inovação da vossa equipa e como decidem quais as funcionalidades de privacidade a implementar primeiro?
Priorizar funcionalidades de privacidade é algo difícil de fazer corretamente, pois, em teoria, não há limite para o quão privado se pode tornar um sistema. O nosso objetivo final é tornar a cripto fácil para as pessoas, dando-lhes funcionalidades de privacidade de última geração que, por vezes, nem se apercebem de que estão a usar.
Quando olhamos para novas tecnologias, fazemos-nos sempre duas perguntas:
Isto vai melhorar de forma significativa a privacidade do utilizador no mundo real?
Conseguimos implementar de forma que seja natural para o utilizador?
Foi esse pensamento que nos levou a integrar coisas como Litecoin MWEB, Tor, Bitcoin Silent Payments e PayJoin V2. São tecnologias poderosas, mas que não eram usadas pelo utilizador comum, por isso decidimos tirar estas inovações dos repositórios do GitHub e colocá-las nas mãos de pessoas normais que só querem transações seguras e privadas, sem precisarem de um curso em tecnologia.
A ideia de transformar qualquer telemóvel antigo numa cold wallet air-gapped é revolucionária. O que inspirou esta funcionalidade e como acha que isso pode mudar a perceção das pessoas sobre segurança pessoal em cripto?
O Cupcake surgiu da ideia de que a segurança avançada não deve ser algo apenas ao alcance de especialistas em tecnologia. Muitas pessoas já têm um telemóvel ou tablet antigo guardado numa gaveta, então porque não transformá-lo numa hardware wallet gratuitamente? Essa foi a inspiração. Com o Cupcake, qualquer pessoa pode transformar um dispositivo extra numa cold wallet air-gapped em cerca de cinco minutos.
O que mais gosto no Cupcake é que oferece exatamente o mesmo modelo de segurança nuclear das hardware wallets tradicionais — as suas chaves nunca tocam na internet — mas sem custos nem complexidade. Sem envios, sem esperas, sem dados pessoais, sem moradas na embalagem, sem rasto em papel. Parece apenas um telemóvel velho, mas está, de facto, a manter as suas chaves offline para sempre. E como emparelha com a Cake Wallet em modo apenas de visualização, a sua carteira do dia a dia continua fácil de usar, enquanto os seus fundos de longo prazo permanecem completamente offline.
Acho que isto muda a forma como as pessoas pensam sobre segurança cripto porque elimina o fator intimidação, deixa de ser um produto de luxo. Não precisa gastar dinheiro, esperar entregas ou confiar numa caixa fechada. Pode proteger as suas poupanças com algo que já tem em casa e pode verificar cada linha de código porque é totalmente open source.
Unificaram múltiplas moedas numa única frase-semente e até permitiram aos utilizadores enviar para qualquer endereço usando diferentes criptos. Quão desafiante foi construir este nível de interoperabilidade e o que significa para o futuro das carteiras multi-moeda?
A interoperabilidade parece fácil, mas na realidade cada blockchain “fala” uma linguagem completamente diferente, por isso unificar várias moedas numa única frase-semente e permitir envios entre diferentes criptos foi um desafio, mas foi precisamente por isso que o fizemos. A maioria das pessoas não quer pensar em termos de blockchains, só querem usar as suas criptos.
Ter uma única frase-semente para Bitcoin, Ethereum, Monero e outras, faz com que a auto-custódia seja tão natural como ter um login para uma app bancária. E poder enviar para qualquer endereço, independentemente da cripto que o destinatário tem, elimina atritos nas transações do dia a dia.
Para nós, trata-se sempre de esconder a complexidade técnica dos nossos utilizadores. Se a interoperabilidade for bem feita, o utilizador nem sequer se apercebe que está a acontecer. Apenas abre a carteira, escolhe o ativo que quer e transaciona.
Acho que este é o futuro das carteiras multi-moeda — não “mais funcionalidades”, mas menos desafios para o utilizador. Quanto mais fácil for para as pessoas gerirem diferentes ativos, mais rápida será a adoção em massa. E a privacidade e a auto-custódia tornam-se muito mais realistas quando tudo parece simples em vez de técnico.
Enviar cripto apenas usando um nome de utilizador do Twitter remove uma grande barreira para o utilizador comum. Como equilibram esta conveniência com preocupações de privacidade e segurança?
É verdade que, no mundo cripto, existe a crença comum de que privacidade e segurança vêm sempre à custa da conveniência, mas não achamos que tenha de ser um compromisso permanente. Um dos nossos objetivos na Cake Wallet é provar que é possível ter as três ao mesmo tempo.
A nossa funcionalidade de X é um ótimo exemplo: não alojamos nada na Cake Wallet, não há alojamento nem armazenamento de dados dos utilizadores. As pessoas publicam voluntariamente os seus endereços públicos nas bios do X e nós usamos apenas a API do X para obter o que escolheram tornar público.
Isto significa que existe um endereço verificável para cada utilizador (segurança), facilita aos nossos utilizadores pagar a qualquer pessoa com um nome de utilizador, e muitos dos nossos utilizadores colocam os seus endereços de Monero, BTC Silent Payment ou LTC MWEB, o que no geral torna a cripto mais privada, segura e conveniente.
Esta é a tríade que tentamos alcançar em toda a experiência da aplicação, e pode encontrá-la em funcionalidades como o PayJoin v2, que oferece melhor privacidade sem perda de segurança e pode até resultar em taxas mais baixas, e o AnyPay permite pagar a qualquer pessoa mesmo usando criptos diferentes, o que melhora imenso a privacidade e facilidade de uso.
A integração xStocks da Cake Wallet permite comprar ações tokenizadas como Google ou Nvidia diretamente com cripto. Vê os ativos tokenizados como a próxima fronteira para a adoção das criptomoedas?
Um grande fator nas ações é a acessibilidade. Em alguns países, investir em ações é complicado e muita gente que já detém cripto não quer passar por um banco ou corretora só para ter exposição a ações. Queríamos dar essa acessibilidade aos nossos utilizadores para que pudessem ser, essencialmente, a sua própria corretora. Agora, tudo o que precisam é de cripto na Cake Wallet. Sem conta bancária, sem aprovação de corretora. É uma mudança enorme sobre quem pode participar no sistema financeiro.
Acho que os ativos tokenizados são a próxima fronteira? Acho que são certamente uma delas, mas não a única. É verdade que nem toda a gente quer negociar cripto apenas pelo prazer de negociar cripto. Muitas pessoas querem apenas acesso a mercados globais de forma simples e sem fronteiras. A tokenização torna isso possível porque traz ativos tradicionais para o mesmo ecossistema onde a cripto já opera.
Por isso, para nós, o xStocks está a tornar-se uma porta de entrada para mais liberdade financeira, mais escolha e mais acesso. E quanto mais as pessoas puderem realmente fazer com as suas criptos — enviá-las, poupá-las, investi-las, gastá-las — mais perto estaremos da verdadeira adoção em massa.
Na Suíça, os utilizadores podem pagar com Monero nos supermercados SPAR — um caso notável de utilização no mundo real. Que lições retiraram desta implementação e poderemos ver integrações semelhantes noutros locais?
Uma das maiores lições é que os comerciantes se importam menos com a palavra “cripto” e mais com os benefícios práticos: baixas taxas, liquidação instantânea, ausência de estornos fraudulentos e nenhum dado sensível de clientes para armazenar. E para os clientes, é a privacidade e a conveniência de pagar sem ligar a sua identidade aos hábitos de consumo. É uma vitória para ambos os lados.
Poderemos ver isto noutros locais? Sem dúvida. Cada região é diferente em termos de regulação e cultura dos comerciantes, mas o interesse existe. O sucesso na Suíça deixou claro que a adoção no mundo real não exige que os comerciantes se tornem “especialistas em cripto”. Só exige que os pagamentos sejam tão simples e fiáveis como os sistemas que já utilizam.
O nosso papel na Cake Wallet é continuar a lutar por esse tipo de praticidade.
Com a crescente pressão regulatória sobre moedas de privacidade como Monero, como vê a evolução do equilíbrio entre direitos de privacidade e conformidade?
Há, sem dúvida, muita atenção sobre as moedas de privacidade neste momento, e compreendemos porquê. Os reguladores querem sistemas financeiros seguros e os utilizadores querem controlo sobre a sua informação pessoal — estes dois objetivos não têm de se anular mutuamente. Na Cake Wallet focamo-nos em ferramentas de auto-custódia que não recolhem dados pessoais. Não guardamos fundos, não monitorizamos utilizadores. O nosso papel é apenas dar às pessoas tecnologia segura para gerirem o seu próprio dinheiro.
Olhando em frente, acreditamos que a indústria continuará a avançar para soluções que respeitem ambos os lados: uso responsável da cripto, protegendo ao mesmo tempo as pessoas comuns da exposição desnecessária dos seus dados.
Finalmente, o que se segue para a Cake Wallet? Existem funcionalidades ou objetivos futuros que o entusiasmem particularmente — talvez algo que possa redefinir a nossa perceção de liberdade financeira?
O que se segue para a Cake Wallet passa por expandir a liberdade financeira mantendo sempre a privacidade e a auto-custódia no centro. A funcionalidade que mais me entusiasma neste momento é a integração do Bitcoin Lightning. O Lightning abre portas para tudo, desde micro pagamentos a grandes transferências com liquidação quase instantânea. Mas vamos fazê-lo à maneira Cake: privacidade primeiro e totalmente auto-custodial. Algumas implementações Lightning hoje introduzem concessões em relação à privacidade ou dependem de serviços alojados. Estamos a construir para que os utilizadores mantenham o controlo e a sua privacidade transacional permaneça protegida de ponta a ponta.
Temos também muito trabalho em curso no lado das hardware wallets, a suportar mais dispositivos e a dar às pessoas múltiplas formas de proteger os fundos, seja uma hardware wallet comercial ou um telemóvel extra transformado numa cold wallet air-gapped com o Cupcake.
Outra área onde estamos a investir fortemente é na gestão intuitiva de moedas. Funcionalidades avançadas de privacidade como coin control tradicionalmente foram difíceis ou intimidantes para os recém-chegados. Estamos a tornar o tagging fácil, ações em lote, organização mais inteligente das moedas e controlos de gastos desenhados para que os utilizadores tenham forte privacidade sem precisar de pensar como um programador ou auditor.