Se o Banco do Japão realmente avançar com o aumento das taxas de juro, o mercado pode mesmo virar a mesa.

Nos últimos quinze anos, o Japão manteve taxas de juro ultrabaixas, chegando mesmo a taxas negativas. Os investidores globais seguiram todos a mesma estratégia: pedir empréstimos em ienes praticamente sem custo, trocar logo por dólares e investir em ações norte-americanas, obrigações do Tesouro dos EUA, mercados emergentes, ou até em ativos cripto como SOL, XRP, BNB, para lucrar com o diferencial de taxas. Esta manobra engordou inúmeros fundos de cobertura e jogadores de arbitragem.

Mas e se o enredo se inverter? O aumento das taxas significa que o custo de pedir ienes emprestados dispara, e o jogo de arbitragem que parecia garantido transforma-se num problema sério. Os fundos só podem fechar posições e sair — vendem ações, despejam obrigações, liquidam criptoativos, trocando tudo de volta por ienes para pagar dívidas. O pior é que o iene valoriza ainda mais nesse processo, aumentando ainda mais o custo do empréstimo e forçando mais investidores a vender em massa.

Uma vez desencadeada esta reação em cadeia, instala-se uma tempestade global de desalavancagem, comparável à vaga de liquidação de ativos aquando da falência da Lehman Brothers. Bolsas de ações, criptomoedas e mercados obrigacionistas podem sofrer em simultâneo — ninguém escapa.

O risco estrutural está muitas vezes escondido sob uma superfície aparentemente calma. O que realmente destrói não são os movimentos de subida ou descida em si, mas o momento em que a alavancagem se volta contra nós.