Recentemente, surgiu uma onda de frontrunning no mercado, com os traders a concentrarem-se em dois pontos principais: quem será o próximo presidente da Reserva Federal e aquele conjunto de dados económicos que ainda não foram publicados devido à paralisação do governo. No fundo, estas pessoas estão a posicionar-se antecipadamente, apostando que as políticas futuras serão mais acomodatícias.

Vejamos primeiro a lógica por trás destas apostas. O consenso atual do mercado é que a descida das taxas de juro pode ser mais rápida do que o esperado e que o ambiente de liquidez se tornará mais favorável. Este julgamento assenta em dois pilares—

Primeiro, mudanças subtis ao nível de pessoal. Kevin Hassett, conselheiro económico de Trump, é um dos favoritos, e caso assuma o cargo, a perceção geral é que a política tenderá para o lado dovish. Segundo, o vazio de dados está prestes a ser preenchido. Os relatórios de emprego adiados vão ser publicados em breve e, se os números forem fracos, isso dará munição de sobra ao campo dos que defendem cortes de juros.

O que significa esta narrativa para os ativos digitais? O canal de transmissão é bastante direto: melhoria nas expectativas de liquidez → aumento da atratividade dos ativos de risco → o contexto macro para o mercado cripto pode tornar-se mais fértil. Claro, isto numa perspetiva de médio a longo prazo; no curto prazo, a direção dependerá de catalisadores específicos.

No entanto, convém lembrar que o mercado nunca segue numa só direção. Há alguns riscos a ter em conta:

Primeiro, a zona cinzenta do período de transição. Durante a passagem de testemunho entre presidentes, os sinais de política podem ser confusos, levando o mercado a sobreinterpretar e aumentando assim a volatilidade. Depois, o risco do cumprimento das expectativas. Todo o entusiasmo atual assenta na combinação "Hassett assume + dados de emprego fracos". Se alguma destas peças falhar, a inversão de sentimento pode ser rápida.

Perante este cenário, alguns ângulos de observação podem ser úteis:

Primeiro, reconhecer a natureza especulativa do momento — esta fase é movida pela "diferença de expectativas", não por factos já confirmados. Segundo, manter-se atento aos dados de emprego que estão prestes a sair — esse será o primeiro grande teste à narrativa mais acomodatícia. Terceiro, manter flexibilidade tática. Até que a nomeação esteja confirmada e os dados venham a público, a volatilidade do sentimento de mercado será elevada, pelo que a gestão de posições é mais importante do que correr atrás de tendências.

Em resumo: os traders estão a apostar num futuro "possivelmente mais dovish". Podemos compreender a lógica deste enredo, mas até que a personagem principal entre em cena e o rumo fique mais claro, talvez seja sensato manter-se atento a partir da plateia.